sexta-feira, 23 de julho de 2010

Exacerbadamente Terminal Bandeira



Tomado por uma fragrância serena e marcante, o “quatro rodas” dos trabalhadores mudou se por inteiro num único minuto.

A atmosfera de um dia árduo que se fazia presente foi extinta diante da onipotente presença de feição sublime e angelical, agora ela que fazia parte de mais uma pequena parte da massa inotória que era obrigada a se conduzir por uma carroça publica, em meio a Avenida Nove de Julho, tornou se notável.

Como numa classe de primário e com a mesma ingenuidade de quem as freqüenta, estagnei-me no fundo do ônibus, e minuciosamente fui roubando com todo egoísmo e voracidade, os traços mais sensíveis de seu confortável semblante, e em minha direção tomei por conta que em passos decididos vinha com convicção de onde iria esperar para sua descida.

Os fones que gritavam notas agudas de um jazz provido de um sax alto nos meus ouvidos, fizeram daquela cena platônica a trilha perfeita de uma paixão ácida, espontânea e romântica.

Diante da paisagem cinzenta e cancerígena que São Paulo nos obriga a degustar, as arquiteturas vandalizadas que se davam como filmes na janela, perdiam seu teor mórbido com o contraste de seu cabelo, curto, urbano e vermelho que deixava nítido o aspecto de uma rebeldia doce e controlada.

A expectativa que se ansiava junto dos rufos de percussão ainda do mesmo jazz, explodiram se com o ataque ríspido dos trompetes que no mesmo segundo áureo, cruzaram se os olhares.

Como toda boa música que se finda repentinamente no auge de seu solado, chegamos então aonde tudo terminava, e com os mesmos passos decididos que entrou, saiu e ali terminal.

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