domingo, 1 de maio de 2011

Adorei as almas.

engenho1

 

Se nos concentrarmos, poderemos sentir uma sensação nostálgica, que muitos sentirão vergonha e poucos, orgulho, mas todos sentirão saudades.

Saudade de um tempo em que se pisava no chão de terra batida descalço, que não se sentava em poltronas para se ouvir conselhos, mas sim num toco de madeira. Em noites de luar cantavam se as lágrimas do berço distante, num ritmo marcado pela pele de couro esticado.

As frias esteiras pisadoras que confortavam somente a alma e pouco descansavam do físico, o café amargo do grão roubado, qual se coava escondido e fumo que aqui naquele tempo se tornou nativo.

As manhãs de ares gelados, úmidos e ainda exalando orvalho, o galo que avisava o despertar e o chicote que no lombo do animal estralava avisava, amanheceu.

E a primeira do dia, era louvar o criador, aquele que mesmo que obrigado, se abaixava a cabeça e pedia maleme, justiça e a benção ao velho padre português.

A segunda era a mesma até chegar a última do dia e a primeira da noite, “trabaiá e apanhá”.

E logo voltava se para a terra que ali descarregava, que para a Babá se batia cabeça e que nas matas adentro todas as forças eram cultuadas, num berro baixo e escondido se pedia justiça gritando Kaô Kabecilê, que se rogava força e ímpeto gritando Ogum ilê, que se pedia sustento clamando Okê arô e como numa faísca lá estavam eles entre seus filhos, dançando, guerreando e trazendo justiça.

E assim até a lua dar se no ponto mais alto, todos iam pra mesma casinha de barro, seu chão de terra e sua esteira gelada. E essa fora a rotina de um século, onde os que neles libertaram se, ainda hoje trabalham não mais num campo ou numa fazenda, mas num chão de terra batida, com um toco e o mesmo fumo, não mais apanhando e sim orando como um preto velho, para aqueles que de cor branca que o bateram um dia não apanhem hoje da dura vida.

Adorei as almas.

sábado, 26 de fevereiro de 2011

Erê do Vovó

 

preto velho 2

Oh mizifi !!..Nego num liga que falem de nego, ja apanhei e ja aprendi que o homi é assim. Mas despois que o homi aprende, esse nego fica feliz, se nego servir pra ensina entao nego num liga que fale de mim.

O homi é duro mais tem bondade no coração, se lembra da mãezinha num há feitô que num bambeie de emoção, o homi é duro porque tem medo de ama, que quando esse ama, homi baixa as guarda pra não te que lutá.

Quando homi ta amado, vê as coisa cum calma, vê que esse se fo duro, esse na vida só chora.         O homi que engana mizifi, enganado que tá que é cá bondade nas coisa que se pode curá.

Quando nego apanhava ficava de raiva, deitado nas paia só vingá que pensava, nego só apanhava, apanhava, apanhava. Até que o casco do nego num guento e cedeu. Mai nego tava vivo ainda com as costa duída e mai raiva no peito, de ve o banzo da Iaia e da nega ali no leito.

Nego que achava que quando os casco batesse ia ta livre desse fuá, fico mai de seis lua no toco a chora..nego num amava só pensava em vinga, as lua passo e as costa e o coração era só ferida, nas andança no campo tudo esse nego via.

Via faladô de revolta, de sumiço e até nego junto de feitô, via via e num via nada que nunca dexo de vê.

Esse negô num guento, no toco chorô, chorô até mai chega um Erê, com os peito apertado um no outro Erê chamo nego de vô. Nego té aqui num amava, num viu tudo que levo, os chicote e os cascudo ali pra algo serviu. Nego viu que a dô é o caminho po amô, nego viu que o amô é ta livre de dentro dos casco dessas maguá que fico.

Agora sempre que nego véio ta em terra tem erê com vovô.

sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

Ouvindo sabores e escutando cheiros



O peso da fumaça faz com que arque meu corpo, não por respeito e muito menos por humildade, também não me orgulho disso, mas continuo arcado.
O gosto do calor que me traz em poucos segundos a sensação antônima do efeito para-simpático, como que num susto esfria minha alma em tons de um cinza sério e sereno e no expirar esse falso sufoco, alivio me.
Descansando em seu leito, hipnotizo me com a dança do véu que sai de sua ponta, junto com o vento que leva e traz seu bailado e seu perfume, que logo se mistura com o aroma dos grãos torrados e fervidos em agua limpa na minha xícara. O veneno e o antídoto.
Cheiro de cor braseira que nos seus picos esmaga e arranha tudo o que se encontra dentro por dentro e por fora da cabeça.
Um após o outro, ansiosamente. Ergo me então e já não mais arcado, respiro.
Já não mais são grãos torrados, já não é mais xícara, o liquido que trazia o sabor de um amanhecer familiar e doriano agora tem notas de Blues e gritos de gaita.
Gole a gole a música vai se afinando, os acorde em mais harmonia.
Confusões térmicas chegam ao auge quando o Sax gritava sua dor, as pernas não tão mais firmes como a marcação do tempo e o caminhar nem tão mais linear quanto a corda bordão do Baixo que quer falar alto.
Tão pouco erguido, mas ainda respirando, faço a fumaça pesar novamente.

sábado, 4 de setembro de 2010

Bom dia, professora !


O certo e o errado se dissolvem

Diante da vontade de um beijo.

O abraço amigo, ganha mais afeto

Como com quem vira companheiro

Daquela que tem o sorriso mais belo

Tão divino seria se tudo isso

Fosse tomado ao acaso

Onde perpetuaria se a fé

De que fomos joguetes e marionetes

Da providencia maior.

E que se assim por eles quisessem

Que assim fosse, por toda a eternidade.

E em todo sorriso aberto de uma criança por ti

Tenha a certeza que és pura e viva e que luto para um dia

Ser merecedor de um presente imensurável.

Seu sorriso.

Que no caderninho da minha vida, possa ganhar

Um ‘’parabéns’’ e três estrelinhas .

E que no dia 15 de Outubro coloque na mesa de seu coração

A maça mais vermelha e mais cheia de carinho que possa existir.

Que se um dia receber um “bilhete” para que seja assinado

Por mau comportamento, que esteja escrito

Adorei a noite !

E que se um dia for ‘’falta’’ no seu diário, eu possa acordar

E ver que tudo foi um pesadelo e que de manhã estará lá

Linda, com seu sorriso me esperando, pra ter mais uma aula sobre a vida.

quarta-feira, 4 de agosto de 2010

Nada a declarar - insônia


Procuro nessas linhas algo a inspirar-me

Num amor passado, num beijo roubado

Numa magoa antiga, numa nostalgia

Aquilo que vaga nas lembranças

Sem ter a cor da alegria

Procuro nessas linhas algo a orgulhar-me

Que tenha meu mérito, que conquiste seu afeto

Que seja bendito e louvado

Num tom poético quando por ti proclamado

Procuro nessas linhas algo a expressar

Um grito de dor, um ato revolto

Um político escroto

Uma mãe desesperada, um filho na calçada

Um porre bem tomado, uma manguaça

Procuro nessas linhas algo somente pra rimar

Pensar, pensar, pensar

E tudo com coerência, nesse estado do verbo se encaixar

Procuro nessas linhas algo que valha a escrever

Qualquer coisa, qualquer tema

E que fique pronto antes de amanhecer

Quarta – feira 04:14 am

sexta-feira, 23 de julho de 2010

Exacerbadamente Terminal Bandeira



Tomado por uma fragrância serena e marcante, o “quatro rodas” dos trabalhadores mudou se por inteiro num único minuto.

A atmosfera de um dia árduo que se fazia presente foi extinta diante da onipotente presença de feição sublime e angelical, agora ela que fazia parte de mais uma pequena parte da massa inotória que era obrigada a se conduzir por uma carroça publica, em meio a Avenida Nove de Julho, tornou se notável.

Como numa classe de primário e com a mesma ingenuidade de quem as freqüenta, estagnei-me no fundo do ônibus, e minuciosamente fui roubando com todo egoísmo e voracidade, os traços mais sensíveis de seu confortável semblante, e em minha direção tomei por conta que em passos decididos vinha com convicção de onde iria esperar para sua descida.

Os fones que gritavam notas agudas de um jazz provido de um sax alto nos meus ouvidos, fizeram daquela cena platônica a trilha perfeita de uma paixão ácida, espontânea e romântica.

Diante da paisagem cinzenta e cancerígena que São Paulo nos obriga a degustar, as arquiteturas vandalizadas que se davam como filmes na janela, perdiam seu teor mórbido com o contraste de seu cabelo, curto, urbano e vermelho que deixava nítido o aspecto de uma rebeldia doce e controlada.

A expectativa que se ansiava junto dos rufos de percussão ainda do mesmo jazz, explodiram se com o ataque ríspido dos trompetes que no mesmo segundo áureo, cruzaram se os olhares.

Como toda boa música que se finda repentinamente no auge de seu solado, chegamos então aonde tudo terminava, e com os mesmos passos decididos que entrou, saiu e ali terminal.

sexta-feira, 9 de julho de 2010

Xangô


De nada me importa os riscos que corri

Diante do perigo a virtude da fé eu vivi

Confirmando o que sempre esteve presente

O guerreiro que da o equilíbrio

É o que da e o que toma se não estiver contente

O que defende e o que deixa ao leito

Para assim se houver algum proveito

O que vai a frente trazendo justiça

Mais quente que o fogo, junto a mãe da faísca

Que role seus rochedos

Abrindo, criando e fechando caminhos

Com seu livro e suas escrituras

De joelho suplico

Que me livre das mau feituras

Não me deixe perecer

Traz até mim aquilo tudo o que eu merecer

Kao Kabacilê