domingo, 1 de maio de 2011

Adorei as almas.

engenho1

 

Se nos concentrarmos, poderemos sentir uma sensação nostálgica, que muitos sentirão vergonha e poucos, orgulho, mas todos sentirão saudades.

Saudade de um tempo em que se pisava no chão de terra batida descalço, que não se sentava em poltronas para se ouvir conselhos, mas sim num toco de madeira. Em noites de luar cantavam se as lágrimas do berço distante, num ritmo marcado pela pele de couro esticado.

As frias esteiras pisadoras que confortavam somente a alma e pouco descansavam do físico, o café amargo do grão roubado, qual se coava escondido e fumo que aqui naquele tempo se tornou nativo.

As manhãs de ares gelados, úmidos e ainda exalando orvalho, o galo que avisava o despertar e o chicote que no lombo do animal estralava avisava, amanheceu.

E a primeira do dia, era louvar o criador, aquele que mesmo que obrigado, se abaixava a cabeça e pedia maleme, justiça e a benção ao velho padre português.

A segunda era a mesma até chegar a última do dia e a primeira da noite, “trabaiá e apanhá”.

E logo voltava se para a terra que ali descarregava, que para a Babá se batia cabeça e que nas matas adentro todas as forças eram cultuadas, num berro baixo e escondido se pedia justiça gritando Kaô Kabecilê, que se rogava força e ímpeto gritando Ogum ilê, que se pedia sustento clamando Okê arô e como numa faísca lá estavam eles entre seus filhos, dançando, guerreando e trazendo justiça.

E assim até a lua dar se no ponto mais alto, todos iam pra mesma casinha de barro, seu chão de terra e sua esteira gelada. E essa fora a rotina de um século, onde os que neles libertaram se, ainda hoje trabalham não mais num campo ou numa fazenda, mas num chão de terra batida, com um toco e o mesmo fumo, não mais apanhando e sim orando como um preto velho, para aqueles que de cor branca que o bateram um dia não apanhem hoje da dura vida.

Adorei as almas.